Ayrton Senna foi o primeiro piloto da Fórmula 1 a contar com um assessor de imprensa exclusivo. E no mundo machista do automobilismo, ele escolheu uma mulher para a função. Betise Assumpção ficou ao lado de Senna de 1990 até acidente fatal em Imola, em 1994, e aprendeu a domar o tricampeão mundial. “Demorou um ano e meio ou dois para ele entender que eu não queria só puxar o saco e que estava lá para fazer o que estavam me pagando, que era fazer com que ele tivesse uma relação melhor com a imprensa”, afirma Betise.
Ayrton Senna e Betise Asumpçao, Australia 1993, na festa de despedida da McLaren |
A jornalista elogia a postura de Senna, mas lembra que teve trabalho problemas no começo. “Ele era muito tranquilo e educado. Ele tinha bom senso e sabia escutar. Nunca tivemos um arranca-rabo, mas imagino que mais por ele do que por mim”, resume Betise. “Mas o relacionamento dele com a imprensa era péssimo. Ele tinha brigado com todo mundo e a imprensa o via como um mimado, um terceiro mundista e que achava que podia fazer o que queria”, lembra a jornalista.
O trabalho, que também era novo para Betise, já que era a primeira vez que ela atuava como assessora de imprensa e não apenas como jornalista. E a maior dificuldade foi fazer Senna entender a imprensa e aprender a lidar com todos os jornalistas. “A primeira vez que ele veio reclamar sobre a imprensa, que não tinha paciência e que não iria falar com jornalista, eu respondi: ‘Você quer que eu fale o que quer ouvir ou o que me paga para ouvir?’. Ele me olhou com uma cara... Ele era rodeado de gente que só falava sim, como acontece até hoje com esses caras famosos, mas eu falava a realidade e mostrava uma saída, uma solução”, conta.
Ela conheceu Senna quando trabalhava para revistas aqui no Brasil. Em 1986, ele foi eleito o esportista do ano pela revista Placar, da editora Abril, e Betise foi quem fez o especial sobre o piloto. Um ano depois ela foi para a Londres para estudar inglês e buscar novas oportunidades como jornalista. Lá, reencontrou o piloto.
“Fui ao torneio de Wimbledon e o encontrei totalmente sem querer. Ele era muito amigo de um colega da minha irmã. Era um sábado e ele perguntou se eu não queria jantar com ele no dia seguinte. Era uma despedida para o pessoal da Honda. Depois do jantar, ele até acabou nos dando carona para casa e eu contei os planos que tinha, de trabalhar na Inglaterra. Em 89, o pai dele me ligou e me ofereceu o emprego para trabalhar com ele”, diz a jornalista.
Betise acompanhava os passos de Senna, mas mantinha certa distância. “Uma vez ele pediu para eu o chamasse de Beco [apelido de infância do piloto]. Disse que estava honrada por ele me considerar assim tão íntima, mas que não conseguiria. Só quem o chamava de Beco era a mãe, a irmã e os amigos de infância”, afirma. “A gente ficou Ficamos bem amigos, mas não de passar férias juntou ou sair para jantar. Eu fazia questão de não ser amiguinha até para não perder a capacidade de chegar e falar: ‘Não é assim que se faz’”, continua.
A assessora teve que agir, por exemplo, em um episódio que ganhou as páginas de jornais. No GP de Suzuka, no Japão, em 1993, Eddie Irvine, que era retardatário, não deixou Ayrton Senna ultrapassar. O brasileiro ganhou a corrida, mas Betise ouviu o piloto novato comentando a disputa depois da prova. “Passei por ele e escutei algo do tipo: ‘Só porque o cara é campeão eu vou deixar passar? ’. Voltei para a cabine da McLaren, que era pequena como um banheiro, e lá estavam Senna e Giorgio [Ascanelli, engenheiro da equipe].
Estava tudo bem e comentei o que tinha ouvido. Aí foi o meu erro. Eu nem terminei a frase e o Ayrton saiu correndo para a cabine da Jordan e saia fumaça da orelha dele. Fomos eu e o Giorgio atrás”, conta Betise.
Ela ainda fala que o brasileiro já chegou brigando com Irvine. “O cara virou e falou: ‘Se você fosse bom mesmo, teria me passado’”. Nessa hora, o Ayrton deu um tapa na cara dele e todo mundo o segurou, não deu tempo de dar o segundo”, completa.
Foi então o momento de a assessora trabalhar. Na cabine da Jordan estavam apenas Irvine e duas pessoas. Mas a persiana estava aberta e quem estava de fora viu toda a cena. Não tinha como ignorar a briga. “A gente conversou um dia depois e ele estava ainda muito bravo. Disse que teria que pedir desculpas, mas ele não queria de jeito nenhum. Mesmo assim, foi um papo normal, sem ele se exaltar. Depois, conversou com a FIA também e optamos por uma coletiva no GP seguinte, na Austrália. Ele sabia o que deveria fazer. Acha que em algum momento pensou que fosse mesmo certo bater no cara?”, lembra Betise.
A primeira e a última corrida de Betise Assumpção ao lado de Senna, coincidentemente, foram em Imola. No final de semana do acidente fatal, em 1994, ela pouco conversou com o piloto. Segundo a assessora, ele ficou muito abalado com a batida de Rubens Barrichello e, depois, com a morte de Roland Ratzenberger após acidente nos treinos.
“Ele queria saber como Rubinho estava. Ele foi ao centro médico, pulou arame farpado para ver Rubinho porque achou que estavam mentido e que ele tinha morrido. No dia seguinte, ele arrumou um jeito de ir lá ver se o cara estava morto, e ele estava. Depois, o Ayrton estava praticamente mudo, olhando para a parede”, conta Betise.
“No dia da corrida ele só deu um bom dia e não falou com ninguém. Entrei no motor home e perguntei se poderia fazer alguma coisa, mas ele disse que não. Eu estava sentada meio perto e fiz um carinho no cabelo dele. Nunca tinha feito isso na vida. Ele estava péssimo e só levantou a cabeça, me olhou no olho e disse obrigado. Eu saí”, detalha.
Betise ainda fala que os pilotos já se incomodavam com o circuito de Imola e pensavam em lutar por reformas. “Não pensou que fosse morrer ou nada assim. Bobagem. Acho que ele devia estar pensando que poderia ter feito alguma coisa (com relação a mudanças na pista). Ele era assim, se sentia responsável e se via alguma coisa, achava que era ele quem poderia arrumar”, comenta.
Ela ficou com a família Senna até setembro daquele ano. “Eu fiquei um ano meio anestesiada. Fazia ginástica cinco vezes por semana e isso me ajudou a não cair em depressão. Tinha perdido tudo. Não era só um emprego, era o status. Antes eu era a assessora do Ayrton Senna, depois era uma frella fazendo materinhas. Ainda bem que era responsável e tinha dinheiro no banco”, afirma.
A jornalista ainda seguiu ligada à Fórmula 1. Em agosto de 1994 começou a namorar Patrick Head, co-fundador da Williams. Eles se casaram três anos depois, ficaram juntos até 2009 e têm dois filhos: Luke, de 15 anos, e Julia, de 12. Betise deixou a assessoria de pilotos, mas segue morando em Londres e ainda é ligada ao mundo dos esporte. Ela montou a sua empresa em 2011, trabalhou nos Jogos Olímpicos de 2012 e, agora, quer atuar no Rio 2016, trabalhando a imagem do Brasil e dos Jogos no exterior.
Fonte: Ayrton Senna Formula 1 Facebook
Fonte: Ayrton Senna Formula 1 Facebook
Patrick Head nao foi o cara condenado pela morte do Ayrton???Ela casou com ele????
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