sábado, 19 de outubro de 2013

Ayrton Senna disse que Terry Fullerton foi o maior rival de sua carreira

Terry Fullerton (macacão vermelho) conversa com Ayrton Senna (macacão preto) no Circuito de Jesolo, Itália, em 1979; Senna ainda corria com o capacete antigo, cinza com detalhes em verde e amarelo

Terry Fullerton é um inglês simpático, de cabelos grisalhos e curtos. Aos 60 anos, traz sempre um sorriso sob o bigode branco enquanto treina jovens pilotos no kart.

Terry Fullerton aos 60 anos

 Apesar de ser um nome desconhecido de boa parte do grande público fã de automobilismo, em especial fora da Inglaterra, o sorridente Fullerton é um nome importante na trajetória que levou Ayrton Senna à Fórmula 1. Afinal, ele e Senna foram companheiros e rivais ainda no kart, muito antes que se falasse na rivalidade com Alain Prost na McLaren em 1988 e 1989.

O caminho de Fullerton no automobilismo começou com uma tragédia em 1964, ano em que seu irmão Alec morreu em um acidente de moto durante uma corrida no Circuito de Mallory Park. A família de Terry não se opôs à carreira no esporte, mas Terry decidiu trocar as motos pelos carros ao testemunhar o sofrimento da família.

A decisão se mostrou acertada. Nos primeiros anos da carreira no kart, Terry Fullerton conquistou os títulos de campeão britânico júnior (1966, 1967 e 1968), campeão britânico sênior (1971, 1973 e 1975), campeão europeu (1972 e 1973) e campeão mundial (1973). Aos 20 anos, Terry Fullerton já se mostrava pronto para saltar aos monopostos, caminho natural para quem queria (e quer) chegar à Fórmula 1.

Em 1978, ainda no kart, Fullerton se tornou piloto da equipe italiana DAP para a disputa dos campeonatos britânico sênior e europeu da modalidade. Foi neste ano, porém, que chegou à Europa um jovem piloto brasileiro, sete anos mais novo, que buscava sua carreira internacional. Seu nome: Ayrton Senna da Silva, que corria com um capacete cinza com faixas horizontais em verde e amarelo. Nascia ali a primeira rivalidade da carreira de Senna.

Campeão sul-americano de kart em 1977, Senna foi companheiro de Fullerton na DAP por três anos (1978 a 1980). Neste período, Fullerton levou a melhor, conquistando dois títulos britânicos (1978 e 1980) e um europeu (1978). O brasileiro, em compensação, perdeu duas vezes o título mundial, em 1979 e 1980 – os títulos ficaram com os holandeses Peter Koene e Peter De Bruijn, respectivamente. No fim de 1980, Senna foi promovido aos carros, passando a disputar a Fórmula 1600 em 1981, enquanto Fullerton seguiu nos karts.
Senna (kart 1) e Fullerton (logo atrás) foram companheiros de equipe por três anos, entre 1978 e 1980; brasileiro foi correr de monopostos, enquanto inglês abandonou as pistas em 1984

A partir daí, os caminhos dos dois se separaram. Senna correu nas categorias de acesso até 1983, chegando à Fórmula 1 pela Toleman em 1984. Fullerton, por sua vez, conquistou mais um título europeu de kart (1981), entre outras competições internacionais de menor expressão, antes de se aposentar da carreira em 1984. Desde então, tem se dedicado à formação de jovens pilotos, tendo trabalhado com nomes como Allan McNish, Ralph Firman, Dan Wheldon, Anthony Davidson, Paul di Resta e Wade Cunningham.

Mesmo distantes um do outro, Senna jamais se esqueceu da rivalidade com Fullerton. Em novembro de 1993, no fim de semana do Grande Prêmio da Austrália (última vitória da carreira do brasileiro), o já tricampeão foi questionado a respeito do piloto com o qual tinha ficado mais satisfeito correndo contra, de qualquer época que fosse. A resposta esperada era “Alain Prost”, mas Ayrton surpreendeu em Adelaide.

“Eu cheguei à Europa para correr pela primeira vez for a do Brasil, e para ser companheiro de Fullerton, Terry Fullerton. Ele era muito experiente, e eu gostei muito de pilotar com ele. Ele era rápido, era consistente. Para mim, ele era um piloto muito completo. E aquilo era pura pilotagem. Tenho aquilo como uma ótima memória”, respondeu Senna na ocasião.

Em 1993, Senna (à esquerda) aponto ex-companheiro Fullerton (à direita) como melhor rival da carreira; história só veio à tona em 2010, com lançamento de documentário sobre brasileiro

O brasileiro morreria menos de seis meses depois, no acidente do Grande Prêmio de San Marino de 1994. A declaração de Senna, porém, ficou perdida por mais de 15 anos, até o lançamento do documentário Senna, do diretor Asif Kapadia, em 2010. Fullerton só soube da resposta de Senna por conta de dois amigos – um que estava na entrevista coletiva de Senna em 1993, e que jurava ter ouvido a declaração, e outro que estava em uma pré-estreia do documentário no Japão e que finalmente pôde ouvi-la.

“Houve uma premiére no Japão no ano passado, e alguém viu e me disse que eu aparecia no fim do filme”, contou Fullerton ao site EDP24 em 2011. “Eu ouvia falar disso o tempo todo. Um amigo meu era o editor da versão australiana da Autosport (revista britânica especializada em automobilismo) e estava na entrevista em que Ayrton disse isso em 1993. Mas era o testemunho de uma boca só, então eu não ouvi falar nada até o ano passado, quando o filme foi exibido”, completou.

Convidado para um evento de lançamento do filme em Londres, Fullerton destacou a concorrência entre eles entre as décadas de 70 e 80. “Fico feliz que ele tenha dito isso. Sabia que ele tinha esse respeito por mim. Fomos companheiros por três anos. Eu costumava vencê-lo, costumava ser mais rápido que ele”, contou o inglês, que passou longe da F1. “Quando ele deixou o kart, eu ainda estava no topo. Então, eu sabia que ele me respeitava e me considerava muito como piloto. Foi legal ouvir, sabe? Especialmente depois de todos estes anos”, acrescentou.

Fullerton foi procurado nos últimos meses pelo Terra para conceder entrevista. Sua assessoria de imprensa cedeu as fotos da carreira do piloto, inclusive ao lado de Senna. No entanto, a reportagem não obteve resposta, diante de várias tentativas de conversar com o ex-piloto.
FONTE

Terra

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