De um lado, a pressão de estar pela primeira vez em uma equipe com condições de chegar ao título, enfrentando um rival dentro do próprio time já com dois Mundiais no currículo. De outro, a cobrança pessoal por desempenho perfeito na busca frenética por vitórias. Para completar, problemas de relacionamento com o então maior vencedor brasileiro da história da F-1.
Neste cenário, Ayrton Senna viveu em 1988 o ano mais estressante de sua vida, segundo afirmou o jornalista Ernesto Rodrigues, autor do livro "Ayrton, O Herói Revelado" (Editora Objetiva), em entrevista à Folha Online. Mas fechou o Mundial com o primeiro de seus três títulos na principal categoria do automobilismo, feito que completa exatos 20 anos nesta quinta-feira (30).
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Fora das pistas, Senna também enfrentou problemas com o rival Nelson Piquet em 88 |
Para Rodrigues, os problemas de Senna com Nelson Piquet, que chegou a insinuar que o piloto da McLaren era homossexual, em janeiro de 1988, causaram grande dor emocional ao piloto.
"Naquele ano, ele talvez tenha enfrentado a situação de maior estresse da vida dele, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal", disse Ernesto Rodrigues, que trabalhava na direção do programa "Globo Repórter", da TV Globo, à época.
Somado a isso, Senna teve que superar um rival duríssimo dentro da própria McLaren. O francês Alain Prost, que então tinha dois títulos mundiais, foi o principal adversário do piloto na temporada e disputou o Mundial com o brasileiro palmo a palmo até a penúltima corrida, no Japão, no dia 30 de outubro. Senna venceu, com Prost em segundo, e garantiu o título.
"Ele [Senna] enfrentou uma tensão absoluta e um dos maiores pilotos de todos os tempos. Enfrentou também uma equipe que tinha disputa interna e o lobby que, de certa maneira, o Prost tinha na imprensa européia, que contribuiu muito para aumentar o nervosismo e o estresse de Ayrton."
"Ao mesmo tempo, ele teve pela primeira vez um carro perfeito. Foi o maior desafio da vida dele, quando se impôs finalmente como um piloto capaz de ser campeão", afirmou o biógrafo.
Briga com Piquet
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Senna no cockpit da McLaren durante os testes da equipe em Jacarepaguá, em 88 |
Fora das pistas, o piloto também viveu situações tensas em 1988. A rusga entre Senna e Piquet começou quando Ayrton disse a um repórter do "Jornal do Brasil" que havia "sumido da imprensa", no início daquele ano, para que Piquet, então tricampeão da F-1, "pudesse aparecer um pouco".
O piloto carioca respondeu, em entrevista ao mesmo jornal, que Senna, na verdade, havia "desaparecido para não ter que explicar à imprensa brasileira por que não gosta de mulher".
Segundo Rodrigues, Piquet vazou desta forma para a imprensa brincadeiras e boatos que existiam no paddock da F-1. Quando soube das declarações de Piquet, o piloto da McLaren decidiu processá-lo. Depois, desistiu. "Foi o episódio que mais causou sofrimento a ele [Senna] em toda sua vida", contou o biógrafo.
Apesar da confusão, o episódio não prejudicou Senna nas pistas, segundo Rodrigues. "O Ayrton tinha uma capacidade de concentração que assombrava todo mundo. Não acredito que a atitude dele na pista tenha sido influenciada por isso."
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